- Estou atrasado Patrícia, o metro nunca mais chega. Mas vai-me tirando já os processos de hoje e deixa-os na minha secretária.
Advogado aposto, é tal e qual o meu tio. Um minuto e vinte e sete, mulher, 68 anos, saia preta pelos tornozelos e casaco de malha sobre os ombros, canadiana sob o braço esquerdo apoiando o corpo e o espírito, Insuficiência cardíaca, pelo cansaço cianótico, respiratória talvez, mãos encurvadas e deformadas, artrite reumatóide, vai a uma consulta, isso ou apenas mata o tempo antes que o tempo a mate a ela. Dez segundos, o quadro pincelado a óleo altera-se pela primeira vez, as personagens movem-se, as vidas pausadas retomam o seu rumo, todas menos a minha. Eu, sentada no longo banco corrido do metro com o primeiro conjunto que tirei do armário, continuo estoicamente à espera de saber quem sou ou para onde quero ir.
Excelente, B!
ResponderEliminarObrigada Luís :)
ResponderEliminarfaço tantas vezes esta autópsia aos outros durante o dia. Durante o vulgar e comum da vida.
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