Dos lamentos

Os abraços já não aquecem como antigamente, os beijos já não têm o sabor doce do mel, os corpos já não pecam na penumbra da noite, os olhares já não adivinham as palavras nunca ditas, aquelas que agora testemunham o silêncio aflitivo de quem não tem nada para dizer, de quem finge o sucesso de uma vida pessoal para esquecer o falhanço de uma vida conjunta,

- Lamento.
- Não mais do que eu.

e como quem apenas aceita a inutilidade de uns sapatos velhos quando as feridas nos pés deixam de sarar e sangram perdidamente, chorosamente, deixámo-nos partir, sem raiva, sem prantos, sem lágrimas.

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