Das leituras

Pois bem, disse o doutor Cardoso, acreditar que somos uma unidade independente, destacada da incomensurável pluralidade dos próprios eus, representa uma ilusão, aliás ingénua, de uma alma única de tradição cristã; o doutor Ribot e o doutor Janet vêem a personalidade com uma confederação de várias almas, porque a verdade é que temos várias almas dentro de nós, uma confederação que aceita o domínio de um eu hegemónico. O doutor Cardoso fez uma pequena pausa e depois continuou: O que se chama a norma, ou o nosso ser, ou a normalidade, é apenas um resultado, não uma premissa, e depende do controlo de um eu hegemónico que se impões na confederação das nossas almas; caso surja um outro eu, mais forte e mais poderoso, ele vai destronar o eu hegemónico e tomar o seu lugar, passando a dirigir a coorte de almas, ou melhor, a confederação, e essa superioridade mantém-se até ser destronado por seu turno por outro eu hegemónico, por ataque directo ou por uma paciente erosão. - Afirma Pereira, António Tabucchi

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