O espirro

Naquela tarde éramos só nós os dois atrás do pavilhão grande, aquele onde as aulas eram apenas para os anos maiores, a letra E estampada a verde na parede esquerda, uma figura de azulejos na direita. Pegaste-me na mão como se os meus dedos de porcelana tivessem de ser protegidos de uma queda irreversivelmente fatal,
- Gosto muito de ti. Queres namorar comigo?
Era a nossa primeira vez no coração museu por isso namorávamos, não andávamos, andar era para os visitantes assíduos que já conheciam de cor os corredores da casa. Espirrei um não. Queria dizer sim, também gosto muito de ti, mas de repente espirrei, sem aviso, sem intenção, não estava doente sequer, espirrei e escapou-me um não. Queria dizer sim, ou talvez fosse apenas impressão minha, como aquela comichão que se tem no nariz e sustemos a respiração, mas depois relaxamos e quando parece que o espirro já não vem, atchim! e ele sai disparado, não a impressão-que-queria-ser-espirro mas o real, o não que eu não estava à espera.

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