Do 2014

Comecei o ano com cirurgia, ou como quem diz com o pé esquerdo. Juntei-me a uma nova turma. Tive medo de ser rejeitada. Achei que já era capaz de enfrentar os meus medos sozinha. Vacilei e voltei à felicidade fingida do casulo. Ganhei juízo. Apresentei o meu primeiro poster científico num congresso. Não levei o prémio, mas fiquei entre os três melhores. Perdi a minha dança do coração no dia em que me vi pronta para a retomar. Atrevi-me a fazer rir públicos de microfone em punho. Escrevi stand-up, páginas de stand-up. Fizeram-me fumadora passiva durante horas a fio. Resolvi pontas soltas de laços desapertados, mas não todas com pena minha. Percebi que as pessoas especiais descobrem-se nas circunstâncias mais negras. Aconteceram-me os amigos de uma vida. Vi dois concertos do Zambujo sem pagar um tostão. Beijei sob o frio da chuva. Chorei sob o frio da chuva. Vi uma psicóloga na minha mãe. Assisti pela primeira vez à ante-estreia de um filme. Fui feliz na Eslovénia. Provei gelado de raffaelo. Viciei em gelado de raffaelo. Partilhei quartos, segredos e uma garrafa de azeite. Fiz directa no chão de um aeroporto. Recebi a minha primeira mesada. Percebi que sou mais forreta do que pensava, mas que até sei e gosto de ser independente. Fiz uma tese de mestrado que me apaixona. Escrevi, escrevi, escrevi. Voltei a dançar num palco. Descobri que croissant de alfarroba recheado é o verdadeiro pão divino. Vi dois bailados ao vivo. Vi quarenta e seis filmes, uns no cinema, outros na ronha dos cobertores. Enviei trinta e cinco postais. Li treze livros. Impingiram-me teorias da demonologia. Cantei até me falhar a voz. Descobri o que amor pode ser escrito apenas com três letras diferentes. Tens concorrência forte dois mil e quinze, vamos tentar igual?

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