Os beijos e castanhas assadas

Sentados nos degraus do passeio gasto pela luz das estrelas, guardamos outonos de romance nos dedos entrelaçados. Árvores desfazem-se da vida que secou, diluída agora num manto mostarda-triste que geme sob os passos deixados pelos náufragos da Cidade das Avenidas Largas, Promete-me que o que temos não é feito de folha caduca, que nunca teremos de enfrentar invernos de troncos despidos da chama que é nossa. A minha cabeça quebra sobre o teu ombro, o único a que pertence e onde ganhou lugar cativo, num encaixe exacto de contornos ósseos que finalmente conheceram o yang sumido, Onde estiveste todo este tempo, meu amor? Perdido nas primaveras dos afectos, nos dias bipolares das chuvas atrozes e dos sóis tórridos, nos tempos anafiláticos e inconstantes do peito, perdido de mim e de ti, perdido de nós. Na Cidade das Avenidas Largas, uma chuva miúda cai sem pedir licença, rasgando a tela de pedaços de céu que se pintou sem darmos conta. Trocamos beijos-de-castanha-assada, partilhadas do mesmo cartuxo com as notícias da véspera agora cobertas de fuligem e cadáveres de casca, Guardemos outonos de romance, meu amor.

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