A velha

A velha a quem chamam velha sente o dever cumprido na pele que descai com o peso do tempo, suspira um mesmo a horas, esboça um leve sorriso. Já não teme o inevitável chegando cedo demais, na carreira 736 que passa no outro lado da rua, o lado para onde recusava ir sem deixar a sopa ao lume, a casa aspirada, a cama feita de lavado, os filhos criados e os netos mimados. A velha a quem chamam velha, no sofá de brocado vermelho espera o marfim de capuz preto da 736, Truz truz, Quem é? É a morte, A morte quem? A velha a quem chamam velha ri-se. Brincam ela e a morte como dois cachorros que se abocanham sem malícia até que um ceda ao cansaço, estendido no chão, gritando ganhaste.

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