O comboio

Queria apanhar o comboio das nove, não o das nove e um quarto, não o das um quarto para as nove, o das nove. Às vezes chego atrasada, porque não sei o que vestir, porque o despertador também não gosta de acordar cedo, porque a torradeira engole as fatias de pão durante demasiado tempo, Despacha-te ou vais perdê-lo de novo, e perco-o. Às vezes estou na estação a horas certas e o comboio não passa, porque a maquinaria amuou e teima em não sair do sítio, porque a tempestade fez uma árvore ceder sobre os caminhos de ferro, porque o maquinista se sentiu mal nessa manhã, e também o substituto e o substituto do substituto, Senhores passageiros, informa-se que devido a problemas técnicos o comboio das nove não irá circular à hora prevista, e assim mais uma vez me despeço da estação de bilhete abandonado no bolso. Nunca consegui apanhar o comboio das nove. Talvez seja esse o nosso fado, gastarmos o mesmo caminho sem nunca nos cruzarmos, separados no lugar certo à hora errada.

Sem comentários:

Enviar um comentário