O peluche

Ela adorava peluches. A menina dos caracóis ruivos dirigia uma colecção digna desse nome, uma ovelha de algodão para não dormir sozinha, um pequeno cão azul para fazer as brincadeiras de irmãos, um urso da sua altura como companhia às refeições, Não são muitos bonecos mãe, se cada um tem a sua função. Ela adorava peluches como todas as crianças, mas não era uma criança. A menina dos caracóis ruivos sentia que não tinha valor, vivia na solidão como a pedra descolada da calçada, a agulha no palheiro despercebida por todos e encontrada por ninguém. A menina dos caracóis ruivos dormia abraçada a uma ovelha de algodão e desejava não existir, brincava com um pequeno cão azul e quebrava sob preconceitos de gente grande. A menina dos caracóis ruivos era uma criança sem o poder ser, porque num acto de crueldade alguém lhe roubara a liberdade pueril da inocência.

2 comentários:

  1. Oh que texto triste! Infelizmente há muitas crianças de caracóis ruivos...
    Beijinho*

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  2. Adorei, comovi-me a ler, obrigada!
    Beijinho :)

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